segunda-feira, 13 de maio de 2013

9 Mentiras, Uma Verdade e Nada Aconteceu


    No dia 14 de abril, esteve em Pelotas o espetáculo “9 Mentiras Sobre a Verdade”, apresentado no espaço do Grupo Tholl. O monólogo representado pela atriz Vanise Carneiro – vencedora do Prêmio Açorianos de Teatro como melhor atriz de 2010 - com direção de Gilson Vargas e dramaturgia de Diones Camargo lotou o teatro localizado nas imediações do porto de Pelotas.

    A personagem Lara inicia a peça entre os espectadores como se todos estivessem reunidos em um encontro de grupo de apoio para mentirosos compulsivos anônimos. Desse modo, Lara começa a contar sua história e a dialogar com os espectadores sobre algumas questões de sua vida perpassadas por referenciais cinematográficos pouco explorados durante a apresentação.

    Apesar de observarmos que a atriz segura o espetáculo durante os seus mais de 60 minutos, em muitos momentos, as situações não funcionavam, chegando a ficar enfadonhas, uma vez que tentativas de piadas não obtinham a devida resposta do público. A atriz conseguiu imprimir um tom de verossimilhança para a personagem. No entanto, a direção pecou ao não utilizar de maneira mais eficiente o drama interno da personagem em diálogo com os espectadores, já que a atriz se comunicava de maneira natural com a plateia, imprimindo um diálogo próximo, sem forçar nenhum tipo de falso carisma. Muito pelo contrário, Vanise conseguiu cativar a plateia, porém os temas não eram abordados com profundidade. Aliás, esse foi um dos maiores problemas do espetáculo, pois a dramaturgia estava confusa, ou seja, uma diversidade de temas eram expostos por Lara e nenhum era abordado com profundidade. Assim que os espectadores começavam a se envolver com a história que estava sendo contada naquele momento, a personagem iniciava uma explanação sobre outro episódio de sua vida. Desse modo, as situações ficavam soltas, tecendo um fio condutor do espetáculo que apenas tangia a superficialidade dos fatos.

    O cenário era composto por uma cadeira vermelha, utilizada pela atriz mais como suporte para suas roupas do que com alguma funcionalidade cênica importante para o espetáculo. Além disso, outro recurso que foi bastante explorado foram projeções de imagens na rotunda. Acredito que os aparatos tecnológicos atuais, quando bem utilizados, acrescentam muito na ambientação cênica. No entanto, nessa peça, a direção optou por empregar projeções apenas com características figurativas e ilustrativas que, se não tivessem sido utilizadas, não fariam a menor falta na forma como a história se desenvolveu. Mais uma vez, quando apareceu algo interessante, ficou suspenso no ar, pois, próximo ao final do espetáculo, a atriz senta-se na plateia para assistir ao que seria um filme de sua vida. Todavia, a cena não chega a se desenvolver. O vídeo, apesar de mostrar uma imagem em close up da personagem num momento de suposta introspecção, não chega a fazer um link com o que viria depois.

    Em alguns momentos, o espetáculo me parecia uma colcha de retalhos que não haviam sido costurados. Os pequenos cortes estavam presentes, mas o patch work ainda não havia sido tecido. Com isso, me passou a sensação de que, durante mais de 60 minutos, nada aconteceu, pois as histórias eram jogadas na superficialidade e se perdiam sem a devida atenção. Enfatizo esse aspecto, já que várias daquelas histórias continham argumentos para darem um tom de lirismo ou de densidade à peça. Porém, nada acontecia nesse sentido.

    Outra situação que me deixou bastante confuso, foi o fato de sermos avisados na entrada do teatro que o espetáculo já havia começado e, ao chegarmos ao espaço cênico, havia um homem sentado na poltrona vermelha, no meio do palco, com um rosto interrogativo e um foco de luz direta nele. No entanto, após a entrada de todo o público, esse senhor, se levanta, sai do palco e se dirige à mesa de som, atrás da plateia. Ocorre um Black out, se abre um foco de luz na lateral da plateia, onde aparece a atriz sentada no meio do público e “o espetáculo começa”. A pergunta da noite foi: Quem era aquele homem e o que foi aquilo? Mais uma vez, um fato sem explicação, sem abordagem e solto no meio do nada. Não pensem vocês, ao lerem esse texto, de que a peça se tratava de alguma proposta ligada ao teatro do absurdo, pois não era essa a proposta, nem muito menos deixar as informações soltas, o que havia era um equívoco dramatúrgico.

     Não posso me aproximar do final desse texto, sem referir que, atualmente, se não fosse por esforço do SESC, a cidade de Pelotas não estaria recebendo espetáculos de teatro, fora dos padrões televisivos do teatro comercialmente vazio de conteúdo e que lota as plateias massificadas, pagando ingressos caros mais para conhecerem o artista da TV do que para apreciarem uma obra artística. Por mais que o comportamento provinciano da sociedade pelotense continue lotando as plateias das peças de teatro enlatado, o SESC propicia uma oportunidade para que o público tenha acesso à cultura de maneira gratuita ou por meio de ingressos com baixo custo. Desse modo, o SESC acaba atribuindo para si o papel de fomento e acesso à cultura nesse município. No entanto, as equipes de trabalho contratadas para fazerem a produção local de qualquer espetáculo devem ser treinadas para saberem lidar com os espectadores e saberem que, se existe procura por ingressos e interesse em assistir aos espetáculos, isso reflete uma demanda de público ávida por consumir teatro. Sendo assim, não se trata de fazer um favor ao disponibilizar ingressos a essas pessoas, mas sim de atender aos objetivos de fomento à cultura desenvolvida nacionalmente pela empresa.

     Portanto, apesar dos problemas relacionados à dramaturgia, o espetáculo “9 Mentiras Sobre a Verdade” agradou aos presentes. Grande parte dessa empatia se deve ao carisma e ao talento da atriz Vanise Carneiro em conduzir a história por mais de uma hora, sem dispersar a atenção do público presente.

Vagner Vargas

DRT – Ator – 6606 – Crítico Teatral.

Texto publicado em 12/06/2011

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